Já era uma espécie de ritual. Minutos antes da hora marcada, lá estava ele a frente do portão aguardando o filho para levá-lo ao compromisso marcado anteriormente. Podia chover ou fazer sol, mas a disciplina com o horário era uma de suas virtudes. Dizia que não gostava fazer ninguém esperar e ressaltava que compromisso assumido era para ser cumprido à risca.
Apesar das limitações naturais da idade, procurava cuidar-se para manter uma vida mais saudável possível. Caminhava e fazia as pequenas compras nos mercados da redondeza. Apreciava pesquisar preços das mercadorias e tinha um pensamento típico das pessoas idosas que não acreditam muito na política e na economia. Era comum dizer: “A poupança não rende mais nada”. As pequenas economias que guardou durante vários anos, e que nos anos de inflação muito alta creditavam a caderneta de poupança com rendimentos também altos, dava-lhe a impressão – obviamente falsa – que naqueles tempos era um bom negócio manter seu dinheirinho aplicado na caderneta, pois os rendimentos, segundo ele, eram muito bons.
Para o filho, que tinha os seus afazeres profissionais, também era motivo de prazer poder atender o seu pai, acompanhando-o onde fosse preciso. Pelas próprias circunstâncias, os “passeios” eram geralmente a médicos e clínicas para realizar exames de saúde. Aliás, cuidar da saúde era uma das suas principais prioridades. Jamais deixava de tomar seus remédios rigorosamente nos horários prescritos.
Esta passagem nos leva a refletir sobre a necessidade que os mais idosos têm em receber, não apenas auxílio, mas também carinho e dedicação dos mais novos e da própria família. Acredito que só podemos avaliar o que essas pessoas sentem, quando chegarmos a esse mesmo estágio. A carência de atenção para os mais idosos é para eles mais que uma doença. É uma enfermidade incurável.
Portanto, não precisamos esperar pelas festas natalinas, onde o Criador é lembrado pelo seu sofrimento em prol dos semelhantes, para reverenciarmos os nossos velhos, os nossos antepassados, os nossos semelhantes. Vamos praticar o amor, a paz e a harmonia em todos os momentos e tornar a fazer sorrir um idoso que só pede um pouco de carinho.
Quanto ao velho do portão, ele não está mais entre nós. Foi para um plano superior, mas certamente estará se lembrando do apoio que recebeu do filho e de todos que o cercavam. Que a alegria que ele desfrutou em vida, torne-se um símbolo de paz e prosperidade para os que por aqui continuam. O velho em questão pode ser o pai de cada um de nós.