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Reeleição do síndico

O sujeito foi um dos primeiros a se mudar para aquele edifício. De natureza humilde, desfrutava de prestígio entre os moradores do condomínio, mas na maioria das vezes durante as reuniões dos condôminos, postava-se do lado da oposição, dificultando a tomada de decisão sobre os assuntos em pauta. Apesar de pouco estudo revelava destacado poder de oratória o que facilitava o convencimento dos demais por suas idéias.

Depois de algumas tentativas fracassadas, elegeu-se síndico do prédio. Não demorou muito para fortalecer a sua gestão, convidando para assessorá-lo, aqueles moradores que se identificavam com ele e seus métodos.

Fez uma gestão pífia, porém destacava sempre a importância do condomínio em tê-lo com síndico. O seu relacionamento com empresas prestadoras de serviços e a maneira de como eram contratadas, sempre chamou à atenção dos moradores. Como tinha uma base aliada sólida na gestão, as contas e ações eram sempre aprovadas pela maioria.

O estatuto do condomínio permitia a reeleição do síndico e pensando nisso, preparou-se para tentar a reeleição. Para garantir o sim da maioria aliada, não mediu esforços de oferecer-lhes certas vantagens. Estas benesses seriam repassadas dos contratos a serem fechados na nova gestão. Na surdina e sem o conhecimento dos demais condôminos, convenceu a sua tropa e reelegeu-se o representante dos moradores daquele edifício por mais um período.

O então segmento de oposição, ora representado por cidadãos moradores com maior nível de esclarecimento, iniciou um processo de investigação a respeito das atitudes escusas do síndico. Não demorou muito e descobriu-se que em uma das licitações apareceram evidências de falcatrua. Tudo parecia caminhar para o mesmo final de muitos processos instaurados nos diversos setores da sociedade: pizza!

A licitação em referência dizia respeito à reforma estrutural das fundações do prédio. Com o tempo apareceram sinais de deterioração o que colocava em risco os moradores. A empresa ganhadora do contrato, selecionada pelo grupo do síndico reeleito, não demonstrava a menor capacidade técnica em recuperar as estruturas de sustentação do prédio. Por mais que os moradores se manifestassem contra a decisão da escolha daquela empresa, e por mais veementes tenham sido os protestos para a mudança do prestador de serviço, nada sensibilizou o representante dos condôminos.

Devido às dificuldades de destituí-lo do cargo, os moradores optaram pela decisão mais amarga e contrária as suas vontades. Pouco a pouco, mudaram-se de domicílio, deixando para trás o lar em que viviam, procurando local mais apropriado e isento de desmandos para dar continuidade ao trabalho e educação dos filhos.

Com o prédio praticamente vazio – apenas o síndico e poucos seguidores permaneceram – aconteceu o pior. Por absoluta incompetência da empresa restauradora das estruturas, o prédio veio abaixo, destruindo o patrimônio de muitas famílias. No momento do desabamento não havia ninguém no prédio, poupando a vida de muitos inocentes.

Após o doloroso acontecimento, os moradores que haviam deixado o edifício constituíram uma associação e iniciaram o trabalho de reconstrução, desta feita já com o síndico destituído. Cercados de pessoas de boa índole e realmente focados nos interesses da coletividade, estão conseguindo reconstruir um patrimônio que lhes pertencia e em breve estarão retornando aos seus lares de origem. Quanto ao síndico, sabe-se que retornou à sua origem humilde e hoje vive errante junto com aquele mesmo grupo que acobertava as suas atitudes suspeitas na administração do condomínio.