Em épocas remotas era prática comum aos pais decidirem sobre o futuro matrimonial de seus filhos. Cabia a eles decidirem com quem suas filhas deveriam se casar.
Já vimos muitos exemplos e histórias a respeito dessa interferência paterna em querer planejar a vida de seus herdeiros, mesmo não sendo aquela opção desejada por eles.
Nos primórdios do século 20 vivia uma jovem de formação cultural acima da média para aquela época. Habitava em uma aldeia (a história se passa num país europeu) onde a população era de origem pobre e mantinha-se por meio do trabalho na lavoura. A jovem demonstrava interesse em se aperfeiçoar e sempre se destacou das meninas da sua idade por revelar aptidões culturais pouco em desuso para a época.
Como toda adolescente bem apresentada e elegante, chamava à atenção dos jovens. Aos quinze anos conheceu um rapaz morador das redondezas e por ele se apaixonou. Amor de adolescência? Poderia ser, mas havia uma identidade tão grande que saltava a olhos vistos a grande afeição que havia entre os dois. Respeitavam-se e tinham os mesmos ideais. Trocavam lindas cartas de amor forradas de expressões apaixonadas, pois ambos possuíam extrema sensibilidade poética. O futuro de ambos parecia estar traçado. Parecia. Não fosse a interferência e o desejo de seus pais, que não sabiam a existência do romance, o futuro cor de rosa estava garantido.
Por uma decisão arbitrária os pais haviam prometido a jovem a um respeitado senhor da aldeia vizinha, com posses capazes de satisfazer os melhores dotes que um pretendente poderia oferecer.
A notícia foi recebida com indignação e tristeza pelo jovem e apaixonado casal. De nada adiantou as manifestações de desagrado da jovem. Seus pais afirmavam que o pretendente era o melhor para ela e o tempo ajudaria a acender a chama do amor entre eles.
Fato consumado, não tiveram alternativa senão terminarem o relacionamento. Desapontado e com o coração partido, ele aceitou participar de uma missão humanitária na África. Como voluntário achava que poderia apagar do seu coração aquela paixão sincera, dedicando-se a fazer o bem a quem necessitava. Partiu sem antes despedir-se da amada, sabendo que nunca mais a encontraria.
Ela, por sua vez, seguiu a vontade dos pais e logo em seguida casou-se com aquele marido encomendado.
Passaram-se muitos anos. Tiveram filhos, netos. O marido nunca se portou como um exemplo a ser seguido. Apesar de não ter deixado de dar apoio à família, as suas ausências eram sentidas. Numa dessas ausências, soube-se depois que havia constituído outra família, para o desgosto da esposa que a esta altura já havia decidido morar junto com uma das filhas. Porém a sua grandeza era tamanha que sempre transmitiu aos seus descendentes, lições de harmonia e a importância da união familiar.
Ele morreu primeiro. Longe da família e com poucos amigos, porém venerado, pois de qualquer forma, foi o responsável pela procriação de uma geração.
Ela ainda viveu alguns anos. Pela própria vocação – tinha sido professora – ensinou aos seus netos várias lições de respeito e resignação. O pilar da família deveria ser o mais resistente possível, para evitar desmoronamentos.
Em seu leito de morte revelou um segredo que mantinha com ela desde a época da primeira e única paixão. Pediu que as cartas de amor que ainda guardava, fossem levadas consigo e colocadas junto ao seu coração. Disse, também, que o seu grande amor havia falecido de uma epidemia anos depois em cumprimento a sua missão na África e que jamais o havia esquecido.
Quando Deus a chamou, seu pedido foi atendido e certamente a grande paixão ainda reside no coração de ambos, estejam eles onde estiverem.
Nem tudo na vida acontece como queremos. Mas se ocorrer algo contrário à nossa vontade, saibamos administrar e tirar proveito dos ensinamentos para transmiti-los aos nossos descendentes como lições de muito amor, perseverança e resignação.