Era uma vez um pai muito cuidadoso e até ciumento com os seus objetos pessoais. Tinha uma máquina de escrever portátil que era o seu xodó e não gostava que outra pessoa, a não ser ele, fizesse uso de tal avançada ferramenta tecnológica, pelo menos para a época que se passa a história, há quase trinta anos.
Certa vez, ao chegar a casa, encontrou a filhinha de quatro anos dedilhando as pesadas e desajeitadas teclas da máquina, fazendo que estas se “encavalassem” com muita freqüência. Isto era muito comum, e quem está acostumado digitar algo no computador, talvez não se lembre deste fenômeno de encavalar.
Com o espírito de posse que exercia sobre o equipamento, ficou furioso ao ver a filhinha brincando com algo que julgava não ser um brinquedo. Imediatamente pediu que ela parasse o que estava fazendo, advertindo-a que aquilo não era brinquedo e só poderia ser usada para assuntos sérios.
Ela relutou em abandonar o que estava fazendo e falou para o pai:
– Espera só um pouquinho, estou terminando.
E como continuava dedilhando, deixou o pai irritado, e este mais uma vez pediu que parasse. Ela novamente pediu mais um pouquinho de tempo, porém como não terminava, causou a ira do pai, que bruscamente tirou a máquina do seu alcance.
Imediatamente a menina começou a chorar, mas um choro diferente daquele que o pai estava habituado a ouvir, chamando-lhe a atenção. Após trancar-se no quarto, o pai por curiosidade tirou o papel que estava sendo datilografado e antes de jogá-lo fora, leu o que ela estava tentando escrever, que entre alguns erros, tinha a seguinte frase:
“Papai, você é o maior pai do mundo… te amo!”
Foi aí que ele compreendeu o choro diferente de sua filha, e ato contínuo também começou a chorar.
Fica como moral da história que uma criança pode ensinar muito a um adulto, e que devemos contar até dez antes de repreender uma criança. Fica também o reconhecimento de um pai que após vinte e oito anos reconhece o erro que cometeu com a sua filha Vanessa.