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A Gaita-de-Fole

A Gaita de fole
A Gaita de fole

Assistindo recentemente um programa de televisão onde se divulgava aquele lado de Portugal que poucos conhecem, inspirei-me a escrever algo sobre a terrinha que tanto amamos.

Que sou português, não deve ser novidade para a maioria. Que sou brasileiro por opção, também não. Mas que tenho na memória a cena que os gaiteiros, como mostrado no programa, proporcionaram aos que assistiam, não deve ser fato conhecido.

Lá nasci e enquanto lá morava (até os 6 anos) participava das festas tradicionais daquele pequeno lugarejo. Como toda a cidade, lá também se reverenciava o santo ou santa protetora do lugar para os quais eram dedicados os votos de fé.

Todo mês de julho, mais precisamente no dia 22, comemorava-se a festa de Santa Madalena, a padroeira do Conselho. A presença dos fiéis acompanhando a procissão era o momento da mais fervorosa prova de fé. Não menos importante era a expectativa pela chegada das gaitas-de-fole. Os gaiteiros, como são chamados, chegavam meio de mansinho e podiam ser ouvidos com o som característico e incomparável, com a sinfonia num crescendo uniforme denotando a sua aproximação ao centro da freguesia. Para os meus pais, era o ápice da festa, mas para mim, que nada entendia sobre aquela manifestação, era um momento de apreensão, pelo simples motivo de ter medo daquele bando (no bom sentido) de homens tocando cada vez mais alto aquele estranho instrumento.

Os anos passam, e mais do que uma vez, tive a oportunidade de regressar a terra que me concebeu. Em uma dessas vezes, exatamente no dia da Festa de Santa Madalena, lá estava eu visitando os parentes, e eis que, de repente, ouvi um som distante, porém familiar que o meu subconsciente de imediato identificou. Era o gaiteiro se aproximando, depois de passar por outras casas anunciando o início de mais uma festividade. Entre esses dois acontecimentos passaram-se mais de cinqüenta anos. Porém, aquele medo que sentia na minha infância, repentinamente transformou-se em júbilo, e aquele conhecido arrepio que sentimos em determinados momentos de emoção, tomou conta de mim e, ao invés de sorrir, chorei de felicidade.

Esta pequena passagem serve para afirmar que o verdadeiro Portugal é aquele que guarda as suas origens e preserva as suas tradições. É para conhecer este verdadeiro Portugal que conclamo os patrícios e admiradores da cultura e folclore lusitanos a visitarem aquele país, que de pequeno só tem o território, mas mostra uma grandeza incomensurável. Quem sabe ainda teremos chance de ver os gaiteiros abrilhantando uma das festas regionais. Se não for possível encontrá-los, tenho certeza que encontraremos vinho, bacalhau, muita fartura, e, principalmente, o carinho do povo português, ora pois!