Os seus netos o adoravam. Era aquele avô que satisfazia todas as suas vontades. A inocência presente naquelas criaturas era a senha para que nenhum desejo deixasse de ser atendido. O avô carinhoso, sempre presente, tinha uma característica física que chamava a atenção das crianças, o que era raro nas pessoas da sua idade. Possuía uma vasta cabeleira e não denotava qualquer indício de tornar-se uma vasta planície capilar.
Passeios ao parque de diversão, curtir a piscina do condomínio e passear pelos jardins, era a tarefa que mais gostava de fazer com as crianças.
Mas nem tudo na vida é como a gente quer. Uma enfermidade tomou conta do Vô Cabeludo – era assim que os netinhos o chamavam – fazendo com que se tornassem mais escassas as atividades que sempre adorou praticar com eles. Provavelmente, consciente das suas limitações, nunca demonstrou fraqueza perante os pequenos, e, dentro do possível, procurou manter as mesmas atitudes de carinho.
Pouco a pouco aquela chama de alegria e espontaneidade foi se apagando, apagando, até que o Ser superior o chamou para continuar a sua missão de bem servir em um plano superior. Foi um choque para a família. Durante sua enfermidade, as crianças já haviam sido preparadas para a sua eventual falta.
Repentinamente, aquelas pequenas criaturas sentiram-se privadas do convívio com o Vô Cabeludo. Não teriam mais o guia dos seus passeios, o esclarecedor das suas dúvidas, o confidente para os seus ingênuos segredos.
O momento mais difícil é contar às crianças que o ente querido foi chamado pelo Papai do Céu. E o mais difícil ainda, é responder certas perguntas de uma criança de cinco anos ávida por querer saber o porquê do Papai do Céu ter vindo buscar o vovô. Como que ele o levou? Foi no colo? Lá no céu é bonito? O vovô estava vestido com uma roupa bonita? Se ele foi para o céu, ele virou uma estrela?
Enfim, pensamos que temos resposta a todas as perguntas de uma criança, mas em alguns casos como este, por exemplo, aprendemos muito mais com eles do que podemos ensinar.
Naquela noite, como de hábito, a família reunida fez as orações antes de dormir. A neta de cinco anos sempre foi a mais fervorosa ao rezar o Pai Nosso e a Ave Maria. Entretanto, naquela mesma noite, ela não acompanhou a oração com a família. Permaneceu em silêncio no colo do pai, com o olhar fixo e compenetrada. Provavelmente, o seu coração e a sua mente estavam voltados para aquele Vô Cabeludo que tanto amava, e naquele instante ela substituiu a oração para, em silêncio, vê-lo subindo ao céu como uma estrela.