Zelindo hoje está aposentado. Trabalhou mais de trinta anos em uma empresa multinacional. Como qualquer mortal, começou despretensiosamente, aproveitando uma época de vacas gordas, onde o difícil era ficar desempregado. Não tinha formação escolar suficiente para ocupar as chamadas funções de escritório. Demonstrava grande força de vontade e executava sua tarefa de mecânico de manutenção de forma harmoniosa, não decepcionando seus superiores.
Passou por todas as fases econômicas e testemunhou a troca da nossa moeda por diversas vezes. Nunca se esquecerá do dia em que amanheceu com as suas economias depositadas na caderneta de poupança, confiscadas pelo governo. Se era para o bem da nação, até entendeu e como muitos, passou a agir como fiscal do governo no abuso da remarcação de preços. Não tinha um salário extraordinário, mas como a época era de um grande “boom” industrial e a demanda clamava por altos índices de produção, Zelindo engordava o seu orçamento familiar fazendo horas extras o que lhe rendia praticamente outro salário.
Seus filhos cresciam e precisavam de instrução escolar e educação adequadas. Sempre primou por dar a eles o melhor. Preferia deixar de gastar em algo supérfluo que privar seus filhos de escolas de bom nível, o que significa dizer que os mantinha em escolas privadas, onde o ensino era distanciadamente mais aprimorado.
Não esbanjava e com as suas economias comprou outro imóvel. Como já possuía um, tratou de alugá-lo e aplicar o rendimento mensal em um fundo de investimento, prevendo que no futuro precisaria dessas economias para poder sobreviver decentemente.
Os anos passaram. Com muito esforço, conseguiu dar condições aos seus filhos de cursar uma universidade. Hoje ambos estão formados e orgulhosos do pai que com muito sacrifício deu a eles o que mais de precioso há no seio familiar: educação e formação.
Tudo na vida tem começo, meio e fim. No âmbito profissional não é diferente. Era chegado o momento de Zelindo recolher-se, deixando de lado a rotina diária para dedicar-se a tarefas menos cansativas e estressantes.
No início sentiu muito a mudança brusca nas atividades cotidianas. A parte financeira também foi sentida, pois com o salário da aposentadoria mais o pequeno valor recebido do aluguel da casinha que havia comprado, não podia manter o mesmo padrão de vida que até então vinha usufruindo.
Louve-se a sua determinação em manter-se fiel ao seu emprego por mais de três décadas. O seu desempenho, sem ele saber, havia sido reconhecido pela empresa. Nos últimos dez anos, por deliberação espontânea, a companhia recolheu mensalmente uma quantia para um fundo de previdência privada dentro do programa de responsabilidade social implementado pela empresa.
Felizmente, tem sido essa ajuda que tem mantido o padrão de vida praticamente o mesmo de quando estava na ativa.
Entretanto, o que aconteceu com Zelindo é uma dessas exceções que representam um desprezível percentual na estatística trabalhista. Os seus companheiros de trabalho hoje amargam um padrão de vida aquém das suas necessidades básicas. Também não se empenharam como Zelindo para garantirem um futuro melhor e dependem dos filhos para se manter.
Esta é a dura realidade. Não podemos menosprezar as oportunidades que surgem no nosso caminho. Queiramos ou não, o trabalho honesto, a dedicação aos afazeres, ainda são molas propulsoras para a manutenção do lastro familiar.
Pensem nisso e façam ver aos seus filhos que o sucesso profissional não acontece por acaso. Façam ver a eles, também, que a garantia de um futuro sólido e consistente só depende deles, do seu esforço, do seu sacrifício. O seu exemplo é a mais importante lição que você pode transmitir.