O menino tinha 12 anos, aquela idade entre o faz de conta e o início da adolescência. Não decepcionava os pais na vida escolar. Sem ser um ferrenho devorador de livros ou de passar horas dedicando-se ao estudo das matérias, era um aluno acima da média.
Percebia-se nas suas atitudes uma curiosidade latente para o novo, para o desconhecido. Gostava de compartilhar de conversas com pessoas adultas ou trocar idéias com jovens mais velhos que ele. Estava sempre ligado, e já nessa fase, começo dos anos 90, revelava destacado interesse pelos mistérios da informática.
O destino quis que o seu pai fosse designado pela empresa onde trabalhava, para uma missão profissional em uma subsidiária no exterior. Estava ali uma rara oportunidade para o desenvolvimento profissional e, principalmente, oferecer à família a grande chance de conhecer outra cultura e aprender outros idiomas.
Ao dar a notícia em casa todos se exultaram. Para o menino era o que mais ansiava. Com tão pouco idade percebia-se que aquele sonho chegou para ele bem antes do que imaginava. O país era a Alemanha, e depois de passar um período administrando a documentação para a família, chegou a hora do embarque.
Poupando detalhes sobre a alegria de estar viajando num jato de última geração e a surpresa em encontrar um país tão diferente do nosso, o menino encarava a nova experiência com galhardia e determinação. Não se acanhou, tampouco se amedrontou, nos primeiros dias de aula na Escola Internacional Americana, opção do pai para facilitar e conciliar a sua vida escolar no regresso as nossas origens.
Nos primeiros três meses, a dificuldade natural em acompanhar as aulas em inglês e também fazer as tarefas de casa. Nesse período o pai auxiliava como podia, mas foi percebendo que cada dia que passava a sua ajuda era menos requisitada.
Certo dia ao regressar do trabalho, presenciou o menino ao telefone conversando com um colega de escola. O pai não acreditava no que via, ou ouvia. Num desembaraço de impressionar, ambos conversavam na língua que acabaram de assimilar como se fossem nativos americanos.
O progresso na escola era sentido à olhos vistos. Vivia intensamente as atividades escolares, completamente integrado ao novo meio. Respeitava e era respeitado pelos professores, que o chamavam toda vez que havia um problema com os computadores da escola. A sua habilidade com o assunto já se manifestava com tão pouca idade. Não eram raras as menções honrosas pelo seu desempenho e aproveitamento.
O tempo que lá morou, dois anos e meio, deu a ele uma formação de caráter muito forte, uma personalidade marcante e a certeza que o tempo lá passado, iria ajudá-lo na sua formação pessoal e profissional.
No regresso ao Brasil, sentiu novamente dificuldades na escola, agora no sentido inverso. Por ter passado o início da adolescência convivendo com jovens das mais longínquas partes do universo, precisou de um tempo para adaptar-se a nova realidade. Mas o jovem possui um senso de adaptação muito aguçado e rapidamente sentia-se em casa novamente.
Hoje o menino, ou melhor, o jovem está concluindo o nível universitário, graduando-se naquilo que domina e sabe fazer bem: Ciências da Computação. Antes mesmo de graduar-se já contribui com a própria faculdade, ministrando treinamento para os alunos e instituições ligadas ao ramo de informática. Paralelamente, criou uma pequena empresa para prestar serviços de desenvolvimento de programas, e pelo conhecimento adquirido e o respeito reconhecido daqueles que estão à sua volta, tem conseguido desenvolver trabalhos que o qualificam como um bom profissional.
Este conto é um bom exemplo para nós pais. Quem de nós não almeja um futuro sólido e tranqüilo para os nossos filhos? Nem todos têm a mesma oportunidade do pai do menino. Nem todos têm o menino com a mesma ambição e determinação. Mas todos têm, com certeza, o mesmo amor e carinho pelos seus filhos. Havendo isso, não importa o que venha acontecer. Com amor e carinho, raramente haverá desvio na conduta dos nossos herdeiros. A educação através de exemplos é a melhor ferramenta que um pai pode deixar como herança aos seus filhos.
Uma resposta em “O menino”
E isso foi só o pontapé inicial para uma bela vida profissional no exterior.
Se não fosse a oportunidade profissional do pai, ele não teria a base pra ocupar a posição atual: o inglês, que adquiriu com tamanha fluência, lá na IFS.
É isso aí irmãozinho!!!! Soube aproveitar muito bem as oportunidades que lhe apareceram!!!!
Parabéns!!!!